... É gente activa, é família unida, por uma aldeia, por uma paixão, e para toda a vida . Unida por um passado que se vive presente, e por uma tradição que tanto encanta e se sente. Neste blog se honra a história da família Valente, e de todos os que amam a sua terra-mãe: Santana de Cambas. Aqui ficam para sempre as imagens e estórias tornadas História, para que sejam revisitadas em sorrisos e lágrimas, de amor e de saudade.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Do outro mundo (parte 4 - última)



Estava só. O pânico apoderou-se de mim, não sei se pela minha solidão, se por não saber onde estariam os meus três companheiros. À medida que voltava a apoderar-me de mim reparei que estranhamente me doía o corpo, dormente, como se tivera despertado de um coma profundo. Talvez o pânico, talvez. Ou talvez não. A noite continuava escura, e tentei-me guiar pela lua para tentar perceber onde estava. Reconheci as árvores à minha frente. Eram as mesmas, embora as tivesse a ver numa perspectiva diferente. Para lá das árvores reconheci lá ao longe as luzes de Santana. Percebi então que estava na ponta mais distante da floresta, lá no alto do monte, de costas para a ribeira do Chança. Consegui por fim encontrar forças suficientes para começar a girar sobre o meu corpo e a chamar pelos outros, numa angústia profunda e numa vontade tremenda de que isto não passasse de um sonho. Um ruim pesadelo. Mas infelizmente o que nos tinha acontecido era bem real. 
Corri pela orla das árvores, sempre gritando e chamando pelos outros. Caí uma e outra vez com a pressa e o desespero de não ter resposta. Aos poucos fui ouvindo outros gritos, que pensei seriam o eco dos meus, mas a cada passo que dava conseguia enfim distinguir outras vozes, gritando também e chamando por mim. Nos gritos distingui então o meu nome. Alguém me procurava tambem, e suspirei enfim de alívio quando vi ao longe um vulto correndo na minha direcção: era um dos meus companheiros. 
Abraçámo-nos fortemente, como se não nos víssemos há anos, e logo juntámos a nossa voz e nosso esforço para chamar pelos outros. Aos poucos fomos ouvindo então as outras vozes em desespero, e nossos gritos serviam de guia e de orientação para que eles seguissem na nossa direcção. Por fim unimo-nos num abraço repetido, ainda meio anestesiados por toda a situação que vivemos. Estávamos juntos, de novo. 
Não falámos muito desse momento e do que teria acontecido. Apenas rumámos absortos para casa e tentámos dormir, mas para todos foi em vão. Naquela altura não falámos sobre isso com ninguém e, passados todos estes anos, julgo que contámos esta história a meia dúzia de pessoas mais próximas. A verdade é que sempre soubémos que ninguém iria acreditar. 
No instante imediatamente a seguir ao enorme clarão de luz que todos presenciámos, démos conta de que estávamos sós, cada um de nós em cada ponta da floresta. Seria impossível, sabemos, isso ter acontecido devido a factos “normais”. Não nos perderíamos assim uns dos outros, embora a escuridão dessa noite pudesse desorientar-nos um pouco. A verdade é que num momento estávamos bem juntos e no segundo seguinte estávamos separados por uma distância tal que nenhum de nós ouvia o nosso gritar.
Acredito em fenómenos paranormais. Acontecem. Acredito em extraterrestres também, bastando-me a ideia de que se num universo tão grande só houvesse vida na Terra, seria realmente um enorme desperdício de espaço. Mas daí a virem-nos visitar, acho também que seria um enorme desperdício de tempo para eles. No entanto aquela noite marcou a minha vida e mudou a minha forma de encarar o mundo. Este mundo em que vivemos e os outros mundos que sei agora que existem, e que é onde os outros vivem. 

NDR: Tirando alguns pormenores meramente fictícios e que foram colocados apenas para dar consistência a alguns detalhes que já estão um pouco esquecidos, esta história é verdadeira e passou-se em Santana de Cambas, em Agosto de 1993. Os intervenientes desta história, por coincidência ou não, somos nós mesmos, os primos que criaram este espaço da Geração Valente. Continuamos a pensar que ninguém acredita na nossa história, mas a verdade é que os anos vão passando e, como este é um espaço que pretende preservar também as histórias da família, julgámos que seria este o lugar e esta a altura ideal para deixar aqui este nosso legado. Quem sabe um dia alguém acredita?

Com um abraço,
A Geração Valente

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